No entanto, não podemos esquecer que, fatos como esses acontecem ainda em países totalitaristas. E é contra esse presente que precisamos levantar nossas vozes para evitar que se repitam.
Conheci Hélène Berr numa livraria em Metz há duas semanas quando eu e meu marido fomos visitar a família na Lorraine, no leste da França. Li o resumo do conteúdo de seu « Diário » mas hesitei em comprar o livro, embora tenha ficado fortemente gravado em minha mente o seu doce olhar perdido no horizonte. Olhar esse impossível de esquecer. Mas, depois, o arrependimento por não haver comprado o diário martelou tanto na minha cabeça que, dois dias depois eu me encontrava dizendo a meu marido que eu deveria comprá-lo.
Assim é que, no dia seguinte, entramos na primeira livraria que encontramos. Para meu alívio ainda tinha um volume na prateleira.
Nascida em Paris em 1921 de ilustre familia judia, convertida ao catolicismo, morta em Bergen-Belsen (mesmo campo de concentração onde morreu Anne Franck), norte da Alemanha, em abril 1945, provavelmente de tifo, poucas semanas antes da liberação do campo. Seus pais foram deportados com ela e morreram em 1944. Hélène tinha 21 anos quando começou a escrever um diário, no dia 07 de abril de 1942 (eu nasci 10 anos depois, nesse mesmo dia).
Além de estudante da música clássica, era uma brilhante estudante de inglês da Sorbonne onde era também bibliotecária voluntária . Lia Paul Valéry, Thomas Hardy, Elizabeth Goudge, entre outros. Em seu diário cita Shelley e Shakespeare. O ano de 1942 e as leis anti-judáicas de Vichy (Fr) vão transtornar lentamente a sua vida.
Patrick Modiano no prefácio do livro editado pela Ed. Tallandier em janeiro último escreve : » Com certeza em 1942, haviam tardes onde a guerra e a Ocupação pareciam distantes e irreais nessas ruas. Menos para uma jovem de nome Hélène Berr que sabia que ela estava na mais profunda infelicidade e barbaridade ; porém impossível de dizê-lo aos passantes amáveis e indiferentes . Então ela escrevia um diário».
O Diário de Hélène Berr traz muitas relexões sobre a situação dos judeus numa França ocupada pelos nazistas, mas também sobre o mal e a incompreensão das pessoas as quais ela se dirige : É um dever para ela escrever, "pois é preciso que os outros saibam. (…) Pois como curaremos a humanidade se cobrirmos a sua podridão, como purificaremos o mundo se não o fizermos comprender a extensão do mal que ele comete?"
Hélène constata com tristeza que um interlocutor só compreenderá a situação se "você lhe fornece as provas (…) do que você é o centro", o que a revolta profundamente pois "o que conta, é a tortura dos outros, é a questão de princípio, são os milhares de casos individuais que compõem essa questão". Então ela divide o mundo em duas partes: de um lado os que não podem compreender (mesmo se eles sabem), e aqueles que podem . Porém isso significaria "renunciar a uma parte da humanidade, renunciar a crer que todo homem é perfectível"…
Nota : No mês de março p.p. o editor americano Weinstein comprou Le Journal d'Hélène Berr da Ed Tallandier por mais de 500.000 dólares !!
Vamos ficar torcendo para ser traduzido em português, pois vale a pena.
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2 comentários:
Muito tocante, Veneide.
Vamos sempre nos visitar, ok?
Beijo da renata
Ok Renata.
Eu confesso que não fazia idéia do sofrimento que o povo europeu passou durante as 2 grandes guerras aqui na Europa. O curriculo escolar é realmente muito supérfluo;
beijos
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