Publicado no Diariodoamapa.com.br em 08.02.2014
“Mas, essa cobrinha é uma
surucucu. O novo empregado que limpava ao redor da casa confirma. Sim,
dona. Já era esperado que o substituto fosse embora sem fazer a limpeza de
praxe. O mato crescia ao redor e o novo casal acabava de ocupar com os dois filhos
a casa na beira do igarapé. O pão assava no forno porque a falta de energia
estava uma constante nas residências da orla do rio e não permitia que se
usasse a máquina de fazer pão. A primeira preocupação da patroa depois que se
apresentou a propriedade ao empregado foi a lavagem e o tratamento da caixa de
água. Já era tempo. No momento, os bezerros estão presos no curral e só serão
soltos de manhã depois da ordenha das mães. O leite vem a caminho e o queijo
não vai demorar. A noite anterior correra tranqüila e repousante nos arredores
do Município de Amapá depois de duas longas viagens. Três dias antes um vai e
vem turístico ensolarado, carro lotado com familiares, saindo de Macapá direto
para o Museu a Céu Aberto da Base Aérea do Amapá para, em seguida, seguir até
Cachoeira Grande. Uma noite espetacular e, depois do café da manhã seguinte,
saiu-se rumo ao Sitio Arqueológico do Rego Grande, em Calçoene, na direção do
Cunani. Conforme planejado, o guardião do Stonehenge Brasileiro já aguardava na
cidade para servir de guia mais uma vez. Depois da volta para Macapá no domingo
uma noite foi suficiente para recuperar o organismo do cansaço da estrada. O
retorno àquela região na segunda-feira à tarde foi necessário para fazer a
mudança dos novos empregados que aguardavam depois de quinze dias. Aventuras
atrás de aventuras, não sobrou disposição para ir à festa do santo local. O
sono chegou pesado. Ficar na pousada para dormir cedo foi a decisão acertada. A
viagem na manhã da terça-feira para a propriedade rural situada em outra região
atravessando estradas arrebentadas, atoleiros e pontes de madeira exigiria mais
repouso. Principalmente porque o carro iria carregado com a família de novos
caseiros e seus pertences prontos para substituir o empregado remplaçant e contentes
com a perspectiva de um emprego fixo com direito ao leite das crianças e a
facilidade dos peixes próximo a casa. Na pousada fora servido um suco de goiaba
araçá delicioso no café da manhã. Os caroços da goiaba que nos foi presenteada
pela proprietária já estão no vaso esperando grelar e ser transplantados. A
popa da fruta se transformou em suco. Uma goiaba apenas rendeu um litro de
suco. Vale a pena plantar. Parte da horta que antes era habitada por formigas
já se havia limpado e, agora, a caseira continuou a limpeza. Brevemente estará
pronta para receber os rebentos de couve, pimentão e cebolinha cujas sementes
plantei ontem. Sem esquecer a chicória, a alfavaca, o caruru e a pimentinha.
Uma bela horta suspensa. Porém, não se deve ter ilusões quanto aos empregados e
nem ter medo de mudar quando necessário. O passado serve como experiência; o
futuro é incerto, apesar de ter como termômetro o presente. A imagem do
piazinho de seis anos vestido de chinezinho azul (fantasia que usou na escola
ano passado), usando um chapéu de tecido leve, correndo sem medo com o padrasto
atrás dos cavalos no pasto causa um misto de prazer e de temor. O casal educa
bem os filhos. Sandálias e sapatos na porta da casa demonstram o respeito pelo
trabalho de quem limpa e evita levar a sujeira para dentro da casa. A garrafa
de café ofertada voluntariamente para a visita se servir conforme a sua vontade
fora uma demonstração de calorosa recepção e desapego. Na maioria das casas
brasileiras de gente abastada, atualmente, é quase raro ser recepcionado com
alguma bebida. Na casa do pobre sai sempre um cafezinho. Porém, com café ou sem
café, o que importa mesmo é um bom papo."
2 comentários:
Um bom papo, com café ou sem café sempre vai bem.
E para quem tá longe uma boa crônica para um domingo frio é a melhor pedida.
Fiquei imaginando tudo e até senti um cheirinho de gado, mas o melhor, é claro foi do pão assando.
De surucucu, não quero nem imaginar, tenho pavor.
Boa semana amiga!
A surucucu da medo mesmo.rsrs
Qto ao frio,um cafe quente sera sempre bem vindo. bjs
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