Artigo publicado no Diariodoamapa.com.br em 02.04.2014
O vento que
rasga o curso do rio todas as tardes provocando maresias, parece vir das
profundas sem pedir passagem silvando mais ameaçador que uma serpente. O
invasor joga tudo abaixo no traço de seu percurso. É hora de fechar as portas
das casas. Se alguém estiver dentro da mata é prudente procurar abrigo para não
ficar à mercê da queda de alguma velha árvore.
As águas do
rio começam a subir de nível invadindo o terreno sob as palafitas em
conseqüência de suas nascentes serem visitadas constantemente pelas chuvas. O
que é bom para todos: pasto, animais e homens. Ainda é hora de colher a bacaba
ou o açaí. Quando não chove, a sua presença fresquinha na mesa é garantida. Os
colhedores têm receio de subir na árvore molhada e lisa. Os empregados
reúnem-se com ou sem os patrões e partem para a mata a cavalo. Ficam torcendo
para que os tucanos e as araras não cheguem antes deles nos frutos.
Concorrência desleal. Tatus e pacas já saborearam aqueles que caíram aos pés
das árvores. O cardápio vai mudar do frango ou do peixe frito ou cozido. Será
substituído pelo paladar da mistura de coisa doce com coisa salgada: bacaba ou
açaí com açúcar e peixe de salmoura assado na brasa. Restaurante francês
conhecido por servir iguarias em pequenas e finas porções com aquele cerimonial
peculiar que faz você se sentir como um rei ou uma rainha, o garçon, impassível
e ciente de seu métier fazendo os biquinhos que a pronúncia do idioma requer,
ou restaurante italiano onde tudo é gritaria e animação com suas massas e
molhos, nem pensar. Só a culinária indiana ou árabe, onde em cada caçarola mora
um gênio de lâmpada mágica, faz salivar e sonhar num décor típico dos palácios
árabes das mil e uma noites transformados em restaurantes.
Nesta terra
onde “em se plantando tudo dá”, se Pero Vaz de Caminha houvesse observado mais
os animais perceberia que há casos em que nem tudo precisa ser plantado porque
a fauna existente encarrega-se naturalmente de semear. Bendita terra das
palmeiras!
O que é
imprescindível mesmo é que as pessoas se conscientizem que o homem pode e deve
viver em harmonia com a natureza, como faziam os povos primitivos.
A partir do
momento em que o comércio predatório (desde a colonização portuguesa) e a
indústria irrefreável começaram a se expandir, a natureza passou a ser
impiedosamente explorada.
As leis de
proteção ao meio ambiente são claras. Os indivíduos ou os grupos tendem a não
respeitá-las. Toda agressão à
natureza contra a flora, contra a fauna, contra o solo, etc, deve ser punida
sem tolerância e sem obstáculos ao trabalho daqueles que aplicam a lei. O país
investe em campanhas de educação para conscientizar os cidadãos. O que é válido
numa primeira fase. Porém, melhor conseqüência traz a aplicação das sanções
cabíveis a cada caso. O resultado é positivo quando o estado brasileiro mostra
sua força sobre o ato criminal cometido punindo seu autor. Por outro lado, de
uma maneira geral, os investimentos locais e nacionais na educação, no pessoal
e nos meios para possibilitar a aplicação das leis, aliados à seriedade dos
agentes na sua aplicação, constituem indicadores suficientes para acreditar que
se está no rumo certo de um futuro melhor para todos.
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