quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Meu pai, uma figura.

Papai em sua juventude, Mosqueiro, Pa.
Abaixo, à direita, de óculos escuros e colegas de trabalho (segundo de bigode à esquerda é o Sr. "Cabo Velho" ) em frente a antiga garagem do governo, ao lado do terreno onde hoje localiza-se oTeatro das Bacabeiras. Vê-se, ao fundo, antigos prédios que faziam parte do centro administrativo de Macapá, na Av Presidente Vargas. Foram demolidos para dar lugar às lojas Pernambucanas e comércio local, na Praça Veiga Cabral. Seria parte de nossa cidade antiga (infelizmente isso não foi valorizado no processo de construção do centro comercial).

A esquerda, campeão de tiro ao alvo, com várias medalhas nas categorias revólver e espingarda. Anualmente, papai participava de campeonato nessa modalidade no quartel do Exército, no dia do soldado.

Papai à direita, Sr. Leônidas Platon à esquerda e, no centro, meu desconhecido.







Papai (de camisa branca) com amigos. Ao lado, meu pai, seu irmão Bernardino em pé, no Araxá, quando existiam mais árvores, antes da construção da praça atual.







O mês de fevereiro está chegando ao fim. Parece que foi ontem que o ano começou! A rapidez com que trabalha o relógio do tempo é assustadora! Passamos como um raio pela juventude e, ao relembrar, temos a impressão que não foram anos que vivemos, mas momentos, momentos rápidos, fugazes... É que a memória é mais rápida que a vida, que os fatos vividos, que o amor amado e amante, que o sofrimento sofrido, que as lágrimas choradas pela perda. Felizmente não é mais rápida que as lembranças dos bons e eternos momentos de felicidades, de alegria. Esses estão sempre presentes. E é desses momentos que temos saudades. Saudades, sim. Porque gostaríamos que se repetissem. Mas aí, já seria querer muito da vida, não é?
O mês de fevereiro traz muitas lembranças para mim: Dia 13, nascimento de meu pai, no ano de 1921. Dia 21, falecimento de sua amada, minha mãe.
Meu pai foi embora primeiro. Há quase 10 anos. (Tudo isso já? Tão rápido assim?)
Papai Veridiano Souza, nasceu em Capanema, no Pará e, esse ano faria 87 anos se Deus não o tivesse chamado tão bruscamente no último dia de junho de 1998. (Ele teria sido meu paraninfo no fim desse mesmo ano, na colação do curso de Direito da UNIFAP. Mas, não esperou ...). Formatura com lágrimas de tristeza.
Papai veio para o Amapá, como muitos pais de família, na época do 1° Governador, Janary Gentil Nunes. Papai, num determinado período de sua vida funcional, transportava as mães grávidas para o exame pré-natal periódico no posto de puericultura situado ao lado da residência governamental, na Rua Cândido Mendes e, foi nessa mesma rua que papai construiu nossa primeira casa. E foi nessa casa que mais tarde eu nasci.
Muitos cidadãos que hoje estão na faixa dos 60/50 anos foram transportados por meu pai, em “carro do governo”, no ventre de suas mães, que eram consultadas pelo médico que observava se tudo corria bem com a gravidez! Com certeza, meu pai fazia esse transporte com todo zelo, pois ele sempre foi muito correto no que fazia. Pois é, havia esse tipo de serviço antigamente. Mas a população era pequena, há de se admitir.
Mais tarde, além do serviço público, papai dedicou-se a explorar o ramo dos transportes de carga. Foi assim que ele criou seus 7 filhos e ajudou a criar alguns sobrinhos, sempre auxiliando quem precisava de trabalho e treinando jovens que acabavam sendo seus empregados no futuro. Foi pioneiro no serviço de Munck nesse Estado, sempre tratando com bom humor e cortesia os clientes. Existe um pouco dele em cada grande obra levantada nesse Estado, como as torres das estações elétricas da Eletronorte, estruturas de estações da Caesa, as estruturas do Sambódromo, do Estádio Zerão, e inúmeras outras obras.
Quem não conhecia o Sr. Veridiano Souza? Ele era muito conhecido. Só para dar um exemplo: quando eu e minhas irmãs estudávamos em Belém nos anos 70 (aqui ainda não havia o 3º Grau. Eu cursava Biblioteconomia, a Vanda fazia Nutrição e, a Vitória, mais tarde, Administração), nós chegávamos de férias e pegávamos táxi no aeroporto. Bastava dizermos ao motorista para nos deixar na “casa do seu Veridiano” e ele ia direto para nossa casa. Até hoje, a imagem de nossos pais esperando-nos no pátio de nossa casa ... E Macapá já estava com uma população significativa.

Pergunta-se por que escrevo sobre isso? Minha resposta é: Você já viu alguma rua, avenida ou praça com o nome de meu pai nessa cidade que ele ajudou a construir, desde que aqui chegou, em 1946, ou você já ouviu alguma notícia de homenagem, medalha de honra ao mérito ou um diploma de cidadão amapaense a esse cidadão que trabalhou até o último momento de sua vida em prol dessa sociedade que, segundo ele, necessitava dele e que, em consideração a isso, ele nunca se afastava daqui porque se o procurassem ele não estaria aqui para servir?
Você sabe por que nunca lhe prestaram nenhuma homenagem? Nem eu sei.

Mas você sabe qual seria a resposta de meu velho para esse tipo de coisa depois de dar aquele grande sorriso? "Deixa de ser boiota, rapaz. Eu sou o Veridiano, bom de tudo. Bom de tiro, bom de porrada, bom de mulher. E não preciso dessa m..., seu Cornógrafo”. Ahahah. Meu pai era assim mesmo. Na brincadeira, ele chamava de ladrão para uma determinada figura a qual, só fazia rir dizendo: “Eche Veridiano mesmo...”.

Uma coisa que adoro.

Uma coisa que adoro.
No inverno, fica tudo assim. Foto:D.B.

Os lagos

Os lagos
Pegamos nossos remos e varejões e saímos com muito cuidado para não triscar nos jacarés e sucuris. Foto: Veneide