Minha terra tem palmeiras
onde cantam o bem-te-vi e o sabiá.
E, entre essas palmeiras
tem o açaí, o buriti e o mucajá.
Mas é no açaizeiro do vizinho
que vem cantar o sabiá
e na grade da minha janela
que ele vem pousar.
O danado do bem-te-vi se empanturra
no açaizeiro do vizinho, no meu pé de abiu e na sapotilheira.
Depois, canta como um desesperado.
Os vizinhos gritam: “Xô bem-te-vi,
não vem agourar as meninas daqui"
(quando o bem-te-vi canta muito perto da casa de alguma mocinha,
significa que vem bebê a caminho).
No jardim do meu amado, país longínquo e frio,
tem groselhas, peras e ameixas mil.
O sol apenas se mostra, o vento é traiçoeiro,
lá pelos meses de novembro a fevereiro.
Assim, preferindo o sol e o açaí,
vou ficando por aqui. Deus quer.
Meu bem está vindo, chegando devagar,
pensando em mim, no açaí, no navegar,
nas palmeiras da nossa terra.
O bem-te-vi não incomoda:
não posso mais engravidar. Ahahah!
Porém, o canto insistente do sabiá
não deixa ninguém dormir!
Já o bem-te-vi, adora soltar umas manchas de açaí
sobre o carro e a roupa no quintal.
Amo minha terra cheia de palmeiras.
Choro por minha terra desrespeitada
e sua natureza violentada.
Oro a Deus para livrar meu país dos corruptos
e fazer as pessoas compreenderem,
que aquele que compra seu voto
compra sua alma para espezinhá-la.
Sejam bem-vindos o canto do sabiá e as fezes do bem-te-vi!
Veneide 15.07.2007