domingo, 9 de fevereiro de 2014

Aventura.

Publicado no Diariodoamapa.com.br em 08.02.2014


“Mas, essa cobrinha é uma surucucu. O novo empregado que limpava ao redor da casa confirma. Sim, dona. Já era esperado que o substituto fosse embora sem fazer a limpeza de praxe. O mato crescia ao redor e o novo casal acabava de ocupar com os dois filhos a casa na beira do igarapé. O pão assava no forno porque a falta de energia estava uma constante nas residências da orla do rio e não permitia que se usasse a máquina de fazer pão. A primeira preocupação da patroa depois que se apresentou a propriedade ao empregado foi a lavagem e o tratamento da caixa de água. Já era tempo. No momento, os bezerros estão presos no curral e só serão soltos de manhã depois da ordenha das mães. O leite vem a caminho e o queijo não vai demorar. A noite anterior correra tranqüila e repousante nos arredores do Município de Amapá depois de duas longas viagens. Três dias antes um vai e vem turístico ensolarado, carro lotado com familiares, saindo de Macapá direto para o Museu a Céu Aberto da Base Aérea do Amapá para, em seguida, seguir até Cachoeira Grande. Uma noite espetacular e, depois do café da manhã seguinte, saiu-se rumo ao Sitio Arqueológico do Rego Grande, em Calçoene, na direção do Cunani. Conforme planejado, o guardião do Stonehenge Brasileiro já aguardava na cidade para servir de guia mais uma vez. Depois da volta para Macapá no domingo uma noite foi suficiente para recuperar o organismo do cansaço da estrada. O retorno àquela região na segunda-feira à tarde foi necessário para fazer a mudança dos novos empregados que aguardavam depois de quinze dias. Aventuras atrás de aventuras, não sobrou disposição para ir à festa do santo local. O sono chegou pesado. Ficar na pousada para dormir cedo foi a decisão acertada. A viagem na manhã da terça-feira para a propriedade rural situada em outra região atravessando estradas arrebentadas, atoleiros e pontes de madeira exigiria mais repouso. Principalmente porque o carro iria carregado com a família de novos caseiros e seus pertences prontos para substituir o empregado remplaçant e contentes com a perspectiva de um emprego fixo com direito ao leite das crianças e a facilidade dos peixes próximo a casa. Na pousada fora servido um suco de goiaba araçá delicioso no café da manhã. Os caroços da goiaba que nos foi presenteada pela proprietária já estão no vaso esperando grelar e ser transplantados. A popa da fruta se transformou em suco. Uma goiaba apenas rendeu um litro de suco. Vale a pena plantar. Parte da horta que antes era habitada por formigas já se havia limpado e, agora, a caseira continuou a limpeza. Brevemente estará pronta para receber os rebentos de couve, pimentão e cebolinha cujas sementes plantei ontem. Sem esquecer a chicória, a alfavaca, o caruru e a pimentinha. Uma bela horta suspensa. Porém, não se deve ter ilusões quanto aos empregados e nem ter medo de mudar quando necessário. O passado serve como experiência; o futuro é incerto, apesar de ter como termômetro o presente. A imagem do piazinho de seis anos vestido de chinezinho azul (fantasia que usou na escola ano passado), usando um chapéu de tecido leve, correndo sem medo com o padrasto atrás dos cavalos no pasto causa um misto de prazer e de temor. O casal educa bem os filhos. Sandálias e sapatos na porta da casa demonstram o respeito pelo trabalho de quem limpa e evita levar a sujeira para dentro da casa. A garrafa de café ofertada voluntariamente para a visita se servir conforme a sua vontade fora uma demonstração de calorosa recepção e desapego. Na maioria das casas brasileiras de gente abastada, atualmente, é quase raro ser recepcionado com alguma bebida. Na casa do pobre sai sempre um cafezinho. Porém, com café ou sem café, o que importa mesmo é um bom papo."

Uma coisa que adoro.

Uma coisa que adoro.
No inverno, fica tudo assim. Foto:D.B.

Os lagos

Os lagos
Pegamos nossos remos e varejões e saímos com muito cuidado para não triscar nos jacarés e sucuris. Foto: Veneide