quinta-feira, 16 de junho de 2016

O jet lag do Douglas.

Publicado no Diário do Amapá em 01.06.16

Agora que você voltou de sua viagem espacial e se recuperou do jet lag, Douglas Lima, espero que esteja com a saúde em paz com o universo, amigo. Se você tivesse aterrissado em Brasília veria que os escândalos mais recentes atingem pessoas que estiveram bem pertinho de nós aí no Amapá. Mas você escolheu aterrissar na terrinha Tucuju onde os escândalos não são diferentes. Não só você mas, eu também, e uma boa parcela de amapaenses que esperam e querem o melhor para os estudantes de nossa cidade, fomos pegos de surpresa bem no cerne do tema de meu último artigo sobre a Educação. Lá onde eu discorri acerca do nascimento de Ayumi, minha sobrinha neta. Você lembra? Confesso-lhe que, com tanta roupa suja sendo lavada na política nacional colocando em questão a seriedade de nosso país ferindo de morte a nossa economia, empurrando nossa juventude cada vez mais fundo no abismo, tirando a esperança dos pais de família de verem sua prole crescer sadia e constituir por sua vez sua própria família,  eu também, mesmo estando longe daí fisicamente (porque deixei minha alma e meu coração às margens do Rio Amazonas) eu também, repito, sinto-me tentada a me associar, quem sabe aos chineses e pegar uma nave espacial para ir bem alto apreciar tudo isso de longe, lá do infinito. Porém, o sentimento e o zelo pelo meu país não me permitiriam jamais virar as costas para os acontecimentos atuais. É assim que, com outro artigo pronto para te enviar, li, reli, rabisquei, mudei várias frases, até que estou desistindo de enviá-lo porque já me parece obsoleto face às novidades que se apresentam a cada momento na nossa suja política nacional. Naquele rabisco de artigo não enviado eu abordava a esperança que nosso povo deposita na faxina política e na melhoria da situação geral brasileira; eu conversava cá com meus botões sobre uma provável operação da PF na questão do milhão federal e dos uniformes mas, torcia para que o fato se esclarecesse e um ou outro aparecesse (esperança minha); eu divagava também sobre a hora e a necessidade de se fazerem novas eleições presidenciais, o que, no meu entender não seria o  momento certo, pois quem elegeríamos? Lula mais uma vez, que coligaria com Marina? Ou Marina, que coligaria com Lula? Ou seria com quem? E eu continuava: “o Brasil carece de opções. Quem poderia nos apontar algumas? O Brasil precisa de mudanças imediatas. Precisa atrair de volta os investidores. Não temos tempo, nem dinheiro, nem candidatos para investir em uma nova eleição agora. Que tal darmos um tempo para o país respirar e tentar levantar a economia e lavar a alma perante a comunidade nacional e a internacional? O que queremos é um país conduzido por pessoas decentes que respeitem o cidadão brasileiro. Assim, a saúde, a segurança, a Educação e tudo o mais, funcionarão melhor. Este blábláblá é repetitivo? É . Mas o prejuízo também é. E o poço está cada vez mais profundo”. Isto seria parte do artigo que não lhe enviei. Transformei-o em uma metalinguagem? Não importa.
Porém, com razão o Senador Cristóvão Buarque disse “a situação que enfrentamos é culpa de todos”. Ele pronunciou esta frase no Senado onde muitos bem mereceram escutá-la e muitos de nós aqui de fora, também. Uma frase a ser analisada.

Não, não farei uma viagem espacial, Douglas. Não irei para outra galáxia porque quero ver o resultado disso tudo aqui neste Planeta! Mas de bom grado eu colocaria numa nave espacial, sem retorno, os salvadores da pátria pré-candidatos ao cargo de prefeito que já começam a ricochetear discursos na mídia “representamos a mudança e a esperança de um povo que está cansado de sofrer” blábláblá. Ai! Poupem-nos, senhores! Discursos vazios que já caíram de moda. Ou será que alguém ainda acredita nisso? Se continuarmos a acreditar em salvadores da pátria não sairemos da mesmice. E é o que menos precisamos. Ou nunca mais nos recuperaremos do jet lag causado pela hipocrisia política.


Temos sido muito gentis.

Publicado no Diário do Amapá em 10.05.16

Temos sido muito gentis e, a maioria das vezes, coniventes. A complacência usada por longo prazo gera a indolência e, infelizmente, é apreendida como senso comum. Para dar um exemplo: a corrupção, que entrou no conceito de muitos como sendo uma coisa normal; o ganho fácil e o lucro exacerbado. A situação que vivenciamos no Estado do Amapá e em vários outros estados (salários parcelados, reivindicações de pagamentos de terceirizados, etc, saúde, segurança, educação sucateadas, violência aumentando demonstram que, há muito tempo, os gestores perderam o controle administrativo e financeiro daquilo que evitaria que chegássemos a esse caos. Não cabe mais justificar a crise amapaense como se fosse exclusivamente uma consequência da crise nacional, do rombo da Petrobrás e de outros rombos, porém, a má administração da coisa pública brasileira e amapaense gerou os dias atuais. Para externar a minha opinião, minha e somente minha, fruto do meu exercício de memória e de raciocínio, fruto da minha cidadania, digo que fico cada vez mais pasma ao ver e escutar na mídia as propagandas das obras que estão em andamento em alguns municípios do Estado. Pergunto: Não está faltando dinheiro para se investir nos setores essenciais? Se tem recurso financeiro sobrando para propagandas das obras dos gestores por que não se tomam providências legais para que esse recurso possa ser transferido para os serviços que interessam realmente ao cidadão amapaense? Será que a razão está na mentalidade dos gestores que imaginam que o povo ainda é aquele povo que não questiona, não vê e não tem inteligência? O povo da política do pão e circo? Imagino que algum conselheiro político ou de qualquer outra coisa, diga ao gestor: vamos lançar uma propaganda para lembrar ao povo as obras que Vossa Excelência está construindo e assim, acalmar os ânimos e as críticas negativas. E, pá! Lá vem aquelas palhaçadas adentrando a minha, a sua residência, caríssimo amapaense. E a impressão que me causa vendo a cara de pau da pessoa vomitando essa propaganda de obras realizadas é que, no seu entender eu sou uma idiota, uma pateta alienada que vive nas nuvens e de novelas (coisa que detesto) e que eu vou esquecer que no Amapá tem o Aedes Aegypti que, quando não mata, aleija; que no Amapá a maioria da população não foi vacinada contra a H1N1, que no Amapá reinam a paz e a segurança gerais. O caos que nos abate nos últimos meses com o impedimento de quase todos os pretensos substitutos, fazem crer que nenhum dos candidatos à substituição da presidente parece estar isento, até processo transitado em julgado, muitos dos quais nem iniciaram. Haja circo e lixeira para suportar tanta sujeira moral! O brasileiro sério que não está atolado nessa imundície deve, realmente, ter estômago de aço para aguentar tudo isso... Precisamos nos indignar mais. Precisamos ser menos complacentes. Com inteligência.


Nasceu Ayumi.

Publicado no Diário do Amapá em 04.05.16

Nasceu Ayumi, minha primeira sobrinha-neta. Ayumi nasceu bem, porém, após os primeiros afagos paternais inspirou cuidados médicos por haver ficado “roxinha” segundo a mãe me relatou quando fui visitá-la com minhas boas-vindas. Mais uma criança veio ao mundo, mais uma menina, mais uma mulher. Felizmente Ayumi nasceu em um país ocidental, um país cristão. Quem conhece a situação da mulher na Índia ou no Paquistão, onde a mulher é odiada, ou em países africanos que praticam a excisão do clitóris nas meninas (mutilação genital) compreende porque Ayumi é uma felizarda (e eu também) por havermos nascido em um país cristão. Bom, aqui teríamos assunto para milhares de artigos.
Ayumi nasceu em pleno efervescer do processo de Impedimento da Presidente da República do Brasil, no vigor da Operação Lava Jato, da Operação Acarajé e tantas outras dignas de nossos políticos e comparsas, a maioria corruptos. Sem esquecer da interminável, inquestionada e adormecida Operação Mãos Limpas que, depois de todo o esforço e o brio do aparato policial, dorme em algum canto esperando pelo príncipe encantado que venha despertá-la com um beijo.
Ayumi chegou e já deu aquele sorriso dos inocentes que os músculos faciais de um recém-nascido provocam. Chegou sem saber que é bem-vinda e querida porque de nada se dá conta ainda. Ayumi  é recebida neste contexto geográfico amazônico sempre promissor e muito cobiçado por países que destruíram seus recursos naturais. Mas Ayumi chegou também em um contexto moral, ético e político avassaladores. Isto é a mistura de boas-vindas que nossa sociedade preparou para ela e para tantos bebês que nascem todos os dias. Seus pais já fazem planos para seu presente e seu futuro. Entre os planos futuros está o de frequentar a escola, com certeza. Mas nem por isto conhecem o problema da Educação em nosso país, em nosso Estado. Um problema que, parece, não ter solução por falta de interesse dos capitães mores em resolver as dificuldades pelas quais passa o ensino público. Seus filhos podem estudar sem essas dificuldades porque frequentam escolas particulares mas Ayumi e tantos outros bebês têm pais que não podem pagar uma escola particular e, sequer, têm dinheiro que justifique a compra de uma carteira porta-cédulas. Somo minha indignação à indignação de Douglas Lima presente na edição do Diário do Amapá de 28.04.2016 : “...  Mas uma educação capenga parece existir só aqui. É só olhar pro Bailique, onde até agora, pasmem, as aulas de 2016 ainda não começaram. O por quê? Falta de professores. Incrível! Educação é um direito garantido na Constituição Federal. Mas em se tratando disso o Amapá parece não ser Brasil”.
Para completar e reforçar as indignações faço das letras de Douglas as minhas: “Terra que não evolui. O Amapá era pra ser um estado modelo do Brasil, quiçá da América Latina ou mesmo do mundo... Sabe por que falo isso? Porque desde que cheguei aqui, no início dos anos 1990, ouço e divulgo como jornalista as carradas de dinheiro que chegam aqui. É grana proveniente de emendas parlamentares, recursos federais, empréstimos bancários para as mais mirabolantes obras, receitas próprias do estado e do município. Dinheiro pra cá, dinheiro pra lá. Em suma, uma grana grossa. Mas nada ou quase nada é feito...”

É, Douglas, como podemos imaginar para nossas crianças uma educação digna com escolas dignas se no Amapá e seus Municípios não está havendo o investimento necessário para tal? Como posso acreditar que a Ayume e os bebês que nascem todos os dias terão escolas com a garantia de professores, bibliotecas, merenda escolar, segurança, etc, se a Ayume não é filha de vereador, deputado, prefeito ou governador, nem seu doutor, para que seus pais possam pagar escolas particulares, o que por si só, é um desvio de finalidade do Estado e um crime contra a educação básica pois a escola gratuita é uma garantia da Constituição a toda criança, a todo jovem, a todo filho do pai ou da mãe, seja rico ou pobre. Se o Amapá parece não ser Brasil, com todo esse desprezo pelo povo e pela melhoria da vida do cidadão, apesar de toda a grana que veio para cá, eu repito o que ouvi um dia de um ribeirinho: aqui deve ter sido enterrada uma cabeça de boi bem chifruda para emperrar o progresso, você não acha?


Ser brasileiro.

Publicado no Diário do Amapá em 30.04.16

Para se compreender a alma do brasileiro
Há que se despir de todo preconceito e se empanturrar de paixão.
Há que se embriagar da natureza do brasileiro e esquecer toda forma científica que define um povo.
Ser brasileiro não é ser pobre ou rico, nem branco, negro ou amarelo
Não é ser indígena, europeu, asiático, africano ou oceânico.
Ser brasileiro é ser tudo isto misturado em um só sentimento,
Embora em várias maneiras de ser e vários pensamentos.
Por isso, ó prezado estrangeiro, não diga que você conhece o povo brasileiro
Se você não sabe o que é o apego e o amor à Pátria amada,
Se você quer exigir a objetividade e a imparcialidade nas emoções de um brasileiro;
Se você não sabe reconhecer o orgulho desse povo por seu país, ainda que a pátria mãe tenha dado seio e abrigo a um monte de corruptos e outro monte de arrogantes que envergonham a nação, não julgue o sentimento do povo brasileiro.
Não diga que você conhece o povo brasileiro se você não sente seu estômago revirar de náuseas e tristeza com a desordem que atinge este país por culpa de outros maus brasileiros.
Ser brasileiro é saber surpreender com a criatividade; é saber improvisar do nada quando as fórmulas pré-concebidas lhe escapam;
É saber inventar o dia-a-dia sem parâmetros estudados, sem agendas pré rabiscadas; é saber ser íntimo ao ponto de se auto convidar para um café ou uma cerveja na casa de um amigo na certeza que, em vez dele responder: “não dá, tenho um encontro com outro amigo”, ele dirá: “venha, ficaremos todos juntos”. Mesmo que seu amigo saiba que você é um cara de pau ele te acolherá por conta do sentimento de amizade. Porque na casa, na mesa e no coração de um brasileiro sempre cabe mais um; porque na panela de feijão tem lugar para acrescentar-se um pouco de água. Mesmo que o tamanho da panela seja o limite necessário para se evitar o abuso.
Ser brasileiro é se deixar transportar para onde o vento soprar sem medo do desconhecido porque você sabe “se virar”, é saber mudar quando a situação o exige, é fazer das tripas coração em épocas de crise;
É saber separar o joio do trigo e expurgar as ameaças à Democracia, é saber banir a hipocrisia e afastar os interesses pessoais maiores que os interesses da Nação Brasileira;
É saber imitar Fênix e renascer das próprias cinzas quando todos acreditam em sua falência!
É saber exigir seriedade no comportamento e nas escolhas políticas no momento-limite mesmo sendo um povo levado pelo sentimento...pois, por este sentimento, lutaremos até ao extremo para defender nosso Brasil ! Liberdade ainda que tardia !”
                                                                                              Rabiscado em França, em 09/05/15                                                                                         Terminado em Macapá, em 28/04/16

Uma coisa que adoro.

Uma coisa que adoro.
No inverno, fica tudo assim. Foto:D.B.

Os lagos

Os lagos
Pegamos nossos remos e varejões e saímos com muito cuidado para não triscar nos jacarés e sucuris. Foto: Veneide