quinta-feira, 16 de junho de 2016

Nasceu Ayumi.

Publicado no Diário do Amapá em 04.05.16

Nasceu Ayumi, minha primeira sobrinha-neta. Ayumi nasceu bem, porém, após os primeiros afagos paternais inspirou cuidados médicos por haver ficado “roxinha” segundo a mãe me relatou quando fui visitá-la com minhas boas-vindas. Mais uma criança veio ao mundo, mais uma menina, mais uma mulher. Felizmente Ayumi nasceu em um país ocidental, um país cristão. Quem conhece a situação da mulher na Índia ou no Paquistão, onde a mulher é odiada, ou em países africanos que praticam a excisão do clitóris nas meninas (mutilação genital) compreende porque Ayumi é uma felizarda (e eu também) por havermos nascido em um país cristão. Bom, aqui teríamos assunto para milhares de artigos.
Ayumi nasceu em pleno efervescer do processo de Impedimento da Presidente da República do Brasil, no vigor da Operação Lava Jato, da Operação Acarajé e tantas outras dignas de nossos políticos e comparsas, a maioria corruptos. Sem esquecer da interminável, inquestionada e adormecida Operação Mãos Limpas que, depois de todo o esforço e o brio do aparato policial, dorme em algum canto esperando pelo príncipe encantado que venha despertá-la com um beijo.
Ayumi chegou e já deu aquele sorriso dos inocentes que os músculos faciais de um recém-nascido provocam. Chegou sem saber que é bem-vinda e querida porque de nada se dá conta ainda. Ayumi  é recebida neste contexto geográfico amazônico sempre promissor e muito cobiçado por países que destruíram seus recursos naturais. Mas Ayumi chegou também em um contexto moral, ético e político avassaladores. Isto é a mistura de boas-vindas que nossa sociedade preparou para ela e para tantos bebês que nascem todos os dias. Seus pais já fazem planos para seu presente e seu futuro. Entre os planos futuros está o de frequentar a escola, com certeza. Mas nem por isto conhecem o problema da Educação em nosso país, em nosso Estado. Um problema que, parece, não ter solução por falta de interesse dos capitães mores em resolver as dificuldades pelas quais passa o ensino público. Seus filhos podem estudar sem essas dificuldades porque frequentam escolas particulares mas Ayumi e tantos outros bebês têm pais que não podem pagar uma escola particular e, sequer, têm dinheiro que justifique a compra de uma carteira porta-cédulas. Somo minha indignação à indignação de Douglas Lima presente na edição do Diário do Amapá de 28.04.2016 : “...  Mas uma educação capenga parece existir só aqui. É só olhar pro Bailique, onde até agora, pasmem, as aulas de 2016 ainda não começaram. O por quê? Falta de professores. Incrível! Educação é um direito garantido na Constituição Federal. Mas em se tratando disso o Amapá parece não ser Brasil”.
Para completar e reforçar as indignações faço das letras de Douglas as minhas: “Terra que não evolui. O Amapá era pra ser um estado modelo do Brasil, quiçá da América Latina ou mesmo do mundo... Sabe por que falo isso? Porque desde que cheguei aqui, no início dos anos 1990, ouço e divulgo como jornalista as carradas de dinheiro que chegam aqui. É grana proveniente de emendas parlamentares, recursos federais, empréstimos bancários para as mais mirabolantes obras, receitas próprias do estado e do município. Dinheiro pra cá, dinheiro pra lá. Em suma, uma grana grossa. Mas nada ou quase nada é feito...”

É, Douglas, como podemos imaginar para nossas crianças uma educação digna com escolas dignas se no Amapá e seus Municípios não está havendo o investimento necessário para tal? Como posso acreditar que a Ayume e os bebês que nascem todos os dias terão escolas com a garantia de professores, bibliotecas, merenda escolar, segurança, etc, se a Ayume não é filha de vereador, deputado, prefeito ou governador, nem seu doutor, para que seus pais possam pagar escolas particulares, o que por si só, é um desvio de finalidade do Estado e um crime contra a educação básica pois a escola gratuita é uma garantia da Constituição a toda criança, a todo jovem, a todo filho do pai ou da mãe, seja rico ou pobre. Se o Amapá parece não ser Brasil, com todo esse desprezo pelo povo e pela melhoria da vida do cidadão, apesar de toda a grana que veio para cá, eu repito o que ouvi um dia de um ribeirinho: aqui deve ter sido enterrada uma cabeça de boi bem chifruda para emperrar o progresso, você não acha?


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Uma coisa que adoro.

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No inverno, fica tudo assim. Foto:D.B.

Os lagos

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