quarta-feira, 2 de abril de 2014

Mais seriedade para com a natureza.

Artigo publicado no Diariodoamapa.com.br em 02.04.2014

              A calma reinante no espelho de água que se deita diante da casa só é perturbada pelo eco dos gritos das araras que atravessam o rio e pelos cantos e gorjeios dos pássaros. Garças e maguaris cruzam-se no ar procurando peixes. O tapete de mururés que se estende às margens, de um lado e de outro da ponte, lembra a quantidade de poluentes jogados no rio provenientes das fezes dos animais das fazendas existentes. A presença do mururé nos rios e nos lagos é um indicador de poluição das águas. Sua permanência nas margens dos rios diminui a erosão, ajuda a despoluir a água e favorece a reprodução dos peixes. Viveiro permanente em frente às casas quando se pratica a pesca de subsistência. Homem e fauna fluvial, ambos saem ganhando.
O vento que rasga o curso do rio todas as tardes provocando maresias, parece vir das profundas sem pedir passagem silvando mais ameaçador que uma serpente. O invasor joga tudo abaixo no traço de seu percurso. É hora de fechar as portas das casas. Se alguém estiver dentro da mata é prudente procurar abrigo para não ficar à mercê da queda de alguma velha árvore.
As águas do rio começam a subir de nível invadindo o terreno sob as palafitas em conseqüência de suas nascentes serem visitadas constantemente pelas chuvas. O que é bom para todos: pasto, animais e homens. Ainda é hora de colher a bacaba ou o açaí. Quando não chove, a sua presença fresquinha na mesa é garantida. Os colhedores têm receio de subir na árvore molhada e lisa. Os empregados reúnem-se com ou sem os patrões e partem para a mata a cavalo. Ficam torcendo para que os tucanos e as araras não cheguem antes deles nos frutos. Concorrência desleal. Tatus e pacas já saborearam aqueles que caíram aos pés das árvores. O cardápio vai mudar do frango ou do peixe frito ou cozido. Será substituído pelo paladar da mistura de coisa doce com coisa salgada: bacaba ou açaí com açúcar e peixe de salmoura assado na brasa. Restaurante francês conhecido por servir iguarias em pequenas e finas porções com aquele cerimonial peculiar que faz você se sentir como um rei ou uma rainha, o garçon, impassível e ciente de seu métier fazendo os biquinhos que a pronúncia do idioma requer, ou restaurante italiano onde tudo é gritaria e animação com suas massas e molhos, nem pensar. Só a culinária indiana ou árabe, onde em cada caçarola mora um gênio de lâmpada mágica, faz salivar e sonhar num décor típico dos palácios árabes das mil e uma noites transformados em restaurantes.
Nesta terra onde “em se plantando tudo dá”, se Pero Vaz de Caminha houvesse observado mais os animais perceberia que há casos em que nem tudo precisa ser plantado porque a fauna existente encarrega-se naturalmente de semear. Bendita terra das palmeiras!
O que é imprescindível mesmo é que as pessoas se conscientizem que o homem pode e deve viver em harmonia com a natureza, como faziam os povos primitivos.
A partir do momento em que o comércio predatório (desde a colonização portuguesa) e a indústria irrefreável começaram a se expandir, a natureza passou a ser impiedosamente explorada.

As leis de proteção ao meio ambiente são claras. Os indivíduos ou os grupos tendem a não respeitá-las. Toda agressão à natureza contra a flora, contra a fauna, contra o solo, etc, deve ser punida sem tolerância e sem obstáculos ao trabalho daqueles que aplicam a lei. O país investe em campanhas de educação para conscientizar os cidadãos. O que é válido numa primeira fase. Porém, melhor conseqüência traz a aplicação das sanções cabíveis a cada caso. O resultado é positivo quando o estado brasileiro mostra sua força sobre o ato criminal cometido punindo seu autor. Por outro lado, de uma maneira geral, os investimentos locais e nacionais na educação, no pessoal e nos meios para possibilitar a aplicação das leis, aliados à seriedade dos agentes na sua aplicação, constituem indicadores suficientes para acreditar que se está no rumo certo de um futuro melhor para todos.

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Uma coisa que adoro.

Uma coisa que adoro.
No inverno, fica tudo assim. Foto:D.B.

Os lagos

Os lagos
Pegamos nossos remos e varejões e saímos com muito cuidado para não triscar nos jacarés e sucuris. Foto: Veneide